11.5.08

 

PSD : A Continuação do Equívoco

Tinha pensado regressar ao tema do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, não tanto pela questão da ortografia, mas mais pelas suas implicações com a língua que foi de Camões e é hoje a nossa, bem como a Cultura que herdámos dele e de outros ilustres varões, uns mais distantes outros mais próximos e outros ainda nossos contemporâneos.

Farei, no entanto, mais uma pausa para voltar, ainda que a contragosto, à política nacional, mais exactamente, à crise que se vive no PSD e aos equívocos que ainda muitos mantêm em relação ao Governo de José Sócrates e ao partido dito socialista, que o sustenta no Parlamento e fora dele.

Desde que dediquei o último texto ao PSD nada de verdadeiramente empolgante se passou. As candidaturas à sua nova liderança surgidas na Comunicação Social nada de interessante disseram sobre a orientação política que desejam para o Partido e para o País.
As suas intervenções são, na sua maioria, casos de auto-promoção, propondo-se a si mesmos como supostos guias que hão-de conduzir o Partido, novamente, à terra prometida, com a vitória eleitoral em 2009. Para fazer o quê, concretamente e com quem, não o dizem ou exprimem a este respeito vacuidades de circunstância.

Ninguém ainda se pronunciou sobre a natureza ideológica do Partido ou do que dela resta, se resta ainda alguma coisa parecida com isso, depois de cerca de 20 anos de indefinição ou de confusão ideológica.

Parece, no entanto, desenhar-se certo consenso dos chamados notáveis ou barões em torno da figura equívoca e sumamente endeusada de Manuela Ferreira Leite, pessoa tecnicamente competente na área económica e financeira, segundo os seus pares, mas que já deu provas sobejas de falta de intuição política.

MF Leite sempre denotou falta de rasgo político e sempre se refugiou na única linguagem que lhe é familiar, a da terminologia económico-contabilística, o que sendo algo de valioso, em si mesmo, não chega, contudo, para sustentar um líder político, nem um futuro Primeiro-Ministro.

Daí que o equívoco quanto à sua capacidade de liderança política seja grave. Basta que nos recordemos das suas passagens pelo Governo da Nação : apenas nele serviu bem, como técnica de finanças.

Como Ministra da Educação não retenho uma ideia ou uma iniciativa digna de registo, tendo-se limitado a ser mais uma responsável conivente com a degradação triunfante do nosso malfadado Sistema de Ensino. Quem lhe sucedeu não fez melhor, é certo, mas isso não a reabilita da sua apagada contribuição no sector.

Mas pior foi a sua passagem pelo Governo de Barroso, como Ministra das Finanças, onde brandiu o espectro da iminente derrocada financeira, da suprema razão do equilíbrio orçamental para a contenção imposta aos portugueses, com a inovação da venda de património do Estado, ao desbarato, para a redução do monstruoso défice, o que, no final, não veio a acontecer, baldando-se o esforço dos mesmos de sempre, os portugueses da classe média, sobretudo, na sua imaginada proeza.

Saída do Governo, encontrou a sua compensação num confortável eldorado banqueiro, como parece ser o desiderato político de muitos destes barões dos diversos partidos, em particular dos da área de Governo, os tais do designado bloco central, dos interesses, claro.

Nas suas intervenções políticas, durante estes últimos anos e apesar de dispor de várias e poderosas tribunas nunca saiu do ramerrão do economês, jamais produzindo uma ideia política pura, de orientação para o Partido ou para o País.

Resta a sua credibilidade ética, que muitos dizem ser forte, mas do que alguns discordam, por haver pactuado com situações comprometedoras de falta de transparência administrativa, no seio do Partido, apoiando candidaturas internas e sustentando carreiras políticas de pessoas completamente falhas de idoneidade moral e, algumas até, de mera competência técnica, mínima que seja, para o exercício de quaisquer cargos públicos.

Eis porque me surpreende que tanta gente, tida por politicamente arguta, como, por exemplo, José Pacheco Pereira, um político pensante, par excelence, se preste a promover mais um equívoco, na já longa série de malogros políticos, no partido que ainda mantém no seu nome a referência à social-democracia.

Desta forma, a penosa situação do País nem tão cedo terá remédio, prefigurando-se a nossa tragédia colectiva, com a continuação do embuste socrático, com ou sem maioria absoluta, num próximo Governo em 2009, e com a sua persistente proliferação no Estado e nas instituições que com ele cooperam, ainda que estas verbalmente afirmem a sua devoção à mais estrita iniciativa privada, longe do braço deletério do Estado.

Temos visto, na prática, o que tal crença estreme na excelência do Mercado, como entidade reguladora única e acima de toda a suspeita, significa para uma plêiade de arautos do supra-liberalismo económico.

De escândalo em escândalo, de contradição em contradição, as ideias do chamado neo-liberalismo vão sendo desmentidas na prática governativa nativa e internacional, com o proveito sempre crescente destes seus lustrosos arautos, que servem todos os poderes, apesar das suas supostas filiações partidárias socialistas ou social-democráticas.

Deu nisto a credibilidade dos nossos principais actores políticos.

Como se poderá forjar, a partir de tão desalentado horizonte, a sempre desejada regeneração política do País ?

Não será, certamente, com Sócrates «socialista» ou com Manuela Ferreira Leite «social-democrata» que lá chegaremos, mas, no entanto, parafraseando o velho Galileu, ela, a dita regeneração, não deixa de ser absolutamente necessária.

Confiemos, ainda e sempre, na recôndita reserva moral e espiritual deste martirizado Povo Português que já deu provas de ser capaz de grandes obras, quando para tal bem motivado, na base da credibilidade de quem, na circunstância, aparece a orientá-lo.
Assim tem sido em todos os momentos decisivos da nossa História. Nada nos diz que tal não possa repetir-se, sobretudo quando a premência aperta, como no caso presente.

Confiemos, pois, fazendo cada qual o que estiver ao seu alcance, na esfera em que lhe cabe intervir.

AV_Lisboa, 11 de Maio de 2008

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